sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Por onde andei: Arquipélago de São Pedro e São Paulo




Hoje vou dar início a série “Por onde andei” e para estrear resolvi escrever a respeito do lugar mais inóspito que eu já conheci na minha vida: o Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP). É um dos menores e mais isolados arquipélagos do mundo e faz parte do território brasileiro. Charles Darwin foi o primeiro pesquisador a desembarcar por lá em 1832.

A menos que você seja um pesquisador, membro da Marinha do Brasil, algum dos pescadores dos barcos de apoio aos pesquisadores ou que resolva dar um passeio de barco no meio do oceano Atlântico, você não terá a oportunidade de conhecer pessoalmente este lugar. Então vamos saber um pouco sobre o ASPSP?




O ASPSP está situado há mais ou menos 1000 quilômetros da costa nordeste do Brasil e tem 400 metros de comprimento e 20 metros de altitude. Até o ano de 1998 o arquipélago não era habitado e a maioria das pesquisas científicas realizadas no local havia sido realizada por expedições estrangeiras. A partir de então, o arquipélago passou a ser ocupado permanentemente por pesquisadores brasileiros, graças a um programa do Governo Nacional intitulado Programa Arquipélago: onde são desenvolvidas pesquisas nas mais diversas áreas de conhecimento científico. Para chegar até lá os pesquisadores vão a bordo de barco pesqueiro (no meu caso, foi o Transmar II) que sai de Natal/RN ou Fernando de Noronha/PE, levando o tempo de três e dois dias e meio,respectivamente, até chegar ao destino.



O arquipélago conta com uma estação científica, composta por um quarto (capacidade para 4 pessoas), banheiro, cozinha, sala e um pequeno laboratório. A estação é equipada com rádios de comunicação, com telefone (Embratel), internet, comunicação via satélite, gerador de energia, bombas hidráulicas e dessalinizador. A energia utilizada na estação científica é proveniente de placas solares instaladas no teto da casa. A água de beber e para cozinhar é mineral e tem que ser levada para o local (galões e mais galões chegam a cada troca de equipes). Para o banho e demais usos, utilizamos água dessalinizada.



Os pesquisadores se revezam em períodos de quinze dias no arquipélago e lá realizam as coletas e observações necessárias para os trabalhos desenvolvidos pelos grupos de pesquisa. Para que o pesquisador seja habilitado a passar esse período no arquipélago é preciso passar por um treinamento (falarei dele em outro post) e realizar alguns exames médicos e odontológicos. Isto é muito importante pois por tratar-se de um local MUITO isolado é preciso que as possibilidades de problemas (acidentes e de saúde) sejam reduzidas ao máximo pois no caso de uma necessidade o socorro pode demorar mais ou menos um dia. Portanto enquanto estamos na ilha os cuidados são redobrados para que não aconteça nenhum acidente.



A rotina dos pesquisadores durante sua estadia no ASPSP (além dos trabalhos de pesquisa) inclui: limpeza diária das placas solares (há muitos pássaros no arquipélago e eles adoram fazer suas necessidades nas placas) - como forma de garantir energia para os equipamentos; verificar as cargas das baterias; bombear água do mar e garantir a dessalinização da mesma e limpeza dos aparelhos e paredes da casa (a maresia é muito grande) – mantendo assim as boas condições da estação e equipamentos. Em caso de necessidade, há um farol equipado com equipamentos de comunicação e alimentação para o caso de algum sinistro.




Enquanto estive no ASPSP aproveitei todos os dias para curtir o local pois o trabalho que lá realizei dependia dos pescadores (que só pescavam de madrugada). Assim sendo eu trabalhava no período de seis/sete horas da noite até umas cinco/seis horas da manha. No decorrer do dia eu dividia o tempo entre os afazeres "domésticos", cozinhar (fui eleita a cozinheira oficial da minha expedição), dar uma malhada básica (toda improvisada) e aproveitar a ilha.





O lugar é lindo, um verdadeiro paraíso, cercado por uma beleza deslumbrante por todos os lados, um verdadeiro presente de Deus. A riqueza biológica do local é evidente, tanto na própria ilha - cujos principais habitantes são os atobás , as chamadas viuvinhas e alguns caranguejos – como no mar: diversas espécies de peixes, corais, lagostas, esponjas, tartarugas, golfinhos, arraias, polvos e até o tubarão baleia. Sem sombra e dúvidas este é o lugar mais bonito que já visitei até hoje e onde pude pensar muito na vida, rsrsrs. Estive no ASPSP em maio do ano passado e provavelmente nunca mais voltarei por lá. Porém o que vi e vivi, nos quinze dias em que lá fiquei, jamais esquecerei.E então, gostaram? Comentem, perguntem, se inscrevam. Fiquem com Deus, beijos no coração.

Um comentário:

  1. Bacana saber sobre esse lugar tão extremo...

    Fiquei curioso: Não há nenhuma árvore? É possível planta-las? Deve chover bastante, não?! Existe captação de água de chuva?

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